Elementos dos Círculos de Construção de Paz | Parte 1
A peça de Centro
Em tempos pós-pandêmicos, de encontros virtuais, temos relativizado a importância da peça de centro nos Círculos de Construção de Paz, mas ela não deixou de ser importante e penso que, nos Círculos presenciais, é uma peça indispensável.
Sabem por quê?
Usamos a peça de centro para criar um ponto de referência que dá o suporte para falar a partir do coração e a escutar com o coração. A peça de centro é normalmente colocada no centro do espaço aberto dentro do círculo de cadeiras. Normalmente, usa-se um tapete. A peça de centro pode incluir itens que representem os valores do eu verdadeiro, os princípios fundamentais do processo ou uma visão compartilhada do grupo.
As peças de centro seguidamente enfatizam a inclusão ao incorporar símbolos individuais dos participantes, assim como símbolos das culturas representadas no Círculo. O que quer que seja incluído no centro deve promover a sensação de acolhimento, hospitalidade e inclusão.
A peça de centro deve também reforçar os valores que fortalecem o processo. Os facilitadores devem estar muito atentos ao escolher objetos para colocar no centro, a fim de que não escolham algo que possa alienar um membro do Círculo. É muito importante que o facilitador explique o significado de qualquer objeto que tenha colocado no centro.
A peça de centro, além de materializar os valores e as diretrizes que são depositadas, também materializa o princípio da igualdade. Todos os participantes estão a mesma distância do centro. Num Círculos todos somos iguais!
Serve também como uma fonte de apoio à presença qualificada que se almeja. Quando o pensamento, por alguma razão, se afasta do Círculo, a gente olha para o centro e lembra imediatamente de onde estamos, com quem estamos e o que estamos fazendo, trazendo a presença de volta.
Por fim, o centro serve como ponto de fuga. Quando estamos vivenciando no Círculo alguma situação de constrangimento, vergonha ou outra emoção desconcertante e não queremos cruzar nosso olhar com o olhar dos demais participantes, baixamos os olhos para o centro, nos conectamos com o nosso melhor e nos fortalecemos para seguir em frente.
Com o passar do tempo, as peças de centro podem ser construídas coletivamente com cada vez mais representações do grupo e dos indivíduos no Círculo. Por exemplo, um Círculo pode começar com um tapete e um vaso de flores. Pode-se pedir aos participantes, antes da realização do Círculo, que tragam um objeto que represente um aspecto importante de suas vidas. Pode-se pedir aos participantes que se apresentem, que compartilhem o objeto que trouxeram dizendo o que significa para eles e, em seguida depositá-lo no centro. Na rodada subsequente, durante a discussão dos valores, os participantes podem escrever um valor em um papel e podem colocá-lo no centro. O centro agora terá o tapete original, as flores, os valores e todos os objetos trazidos pelos participantes. Uma peça de centro que inclua algo de cada participante é um símbolo poderoso, tanto de conexão e pontos comuns, como da riqueza da diversidade.
Os objetos do centro simbolizam o grupo, o processo restaurativo e o tema do encontro. Geralmente colocamos flores ou uma planta como símbolo do cuidado com a vida. Outros objetos representam o que o encontro almeja alcançar. Cada espaço é pensado em função dos participantes daquele círculo especificamente. Devemos ficar atentos ao grupo e ao lugar onde estaremos facilitando.
(Texto de Carla Grahl inspirado nas lições de Kay Pranis)
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