Vape está na 4ª geração e é o mais viciante até o momento – Vamos conversar sobre isso?

O uso do cigarro eletrônico, conhecido como vape ou pod quadruplicou no país nos últimos quatro anos, especialmente entre adolescentes. Não há dúvidas sobre os efeitos nocivos destes apetrechos eletrônicos. O uso prolongado pode levar a doenças respiratórias, doenças cardiovasculares e problemas de saúde mental. Nas novas versões dos cigarros eletrônicos foi acrescentada a substância “sal de nicotina” que potencializa a absorção dessa substância pelo organismo e ajuda a criar dependência. Atualmente o assunto é considerado uma questão de saúde pública e as escolas não podem se omitir de conversar sobre isso.

Nos estados Unidos a Food and Drug Administration (FDA) e os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) divulgaram os resultados de sua Pesquisa Nacional sobre Tabaco para Jovens, observando que 3,3% dos estudantes do ensino médio (380.000 indivíduos) em todos os EUA estão usando ou usaram cigarros eletrônicos. Esta estatística sugere que as escolas secundárias de todo o país estão a lidar com esta questão.

E aqui no Brasil não é diferente!

Pergunto, como estamos enfrentando essa questão por aqui?

(   ) Melhor não falarmos sobre isso: é problema para os pais;

(   ) Devemos trabalhar juntos escola e famílias;

(   ) É uma questão para ser debatida junto com os jovens antes de mais nada!

Qualquer das opções acima pode ser verdadeira, mas só a última pode ser considerada verdadeiramente restaurativa!

Na Justiça Restaurativa e, segundo a teoria da disciplina social, a ideia é sempre fazer as coisas “com os outros”, incluindo no debate e na tomada de decisões os que estão verdadeiramente envolvidos no assunto.

Foi nessa linha que uma escola americana de Nova York envolveu seus alunos para ajudá-los a encontrar soluções. Utilizando círculos de construção de paz, os professores puderam iniciar conversas com os alunos sobre os perigos do cigarro eletrônico envolvendo-os em ações concretas para enfrentar o assunto.

A iniciativa antivaping da escola começou com círculos realizados nas turmas do 8º ano, abordando os perigos do vape para aumentar a conscientização e educar os alunos. Os círculos tiveram como objetivo conscientizar os alunos sobre o assunto através de relatos e histórias pessoais de cada um.

Alguns estudantes expressaram o seu interesse no uso do vape como uma ferramenta social, alguns descreveram como um estimulante, alguns transmitiram os seus receios em relação ao uso e todos tiveram oportunidade de expressar seus sentimentos e necessidades em relação ao assunto.

Com a intenção de formar uma equipe antivaping em toda a escola, foi realizada uma pesquisa com os alunos para identificar os interessados. Após discussões durante a segunda rodada de círculos, foram escolhidos alguns alunos da 8ª série para servir como líderes de pares para a iniciativa. Esses alunos criaram um plano de intervenção liderado pelos próprios alunos para o resto do ano letivo. O plano envolveu o treinamento da equipe para conversarem com os colegas da 6ª e 7ª série durante os períodos restaurativos, aumentando a conscientização de que “fumar vape não é legal”.

Aproveitando caminhos mais criativos para espalhar suas mensagens de conscientização, a escola realizou um concurso de pôsteres em todo o prédio sobre os perigos do vape e uma equipe apresentou um vídeo de anúncio de serviço público liderado por estudantes e a criação de um “Compromisso ”. O banner com o compromisso de não “vaporizar” foi trabalhado por todos os alunos da escola.

A equipe dos professores e a administração forneceram um alto nível de apoio para capacitar programas que transmitissem e refletissem a voz dos alunos.

Depois disso, em uma iniciativa verdadeiramente comunitária, a escola conectou-se com a biblioteca local que já possuía um programa de cessação do uso do vape para os alunos que admitiram ou foram pegos com vape na escola. O Departamento de Saúde do Condado foi à escola realizar assembléias para aumentar a conscientização sobre os perigos do uso dos cigarros eletrônicos. Ao colaborarem com a biblioteca e o departamento de saúde, os alunos perceberam que a sua comunidade se preocupava com os mesmos problemas com os quais eles lidavam e que podiam encontrar apoio fora dos muros da escola.

Dando aos alunos a oportunidade de liderar, a escola teve um alto envolvimento dos estudantes na abordagem sobre os perigos da vaporização e fez grandes avanços para facilitar a cessação do uso.

Apoiar-se na liderança estudantil dá mais peso à voz e à experiência dos alunos e também apoia os professores, funcionários e administração em seus esforços.  É um verdadeiro exemplo de construção coletiva de solução onde os adultos (professores e gestores) colaboram e realizam as coisas “com os alunos”.

Isso contempla também o chamado “processo justo” que ensina que as pessoas têm mais probabilidade de acompanhar mudanças e novas políticas quando estão verdadeiramente engajadas em um processo de tomada de decisões, quando sabem que suas opiniões foram ouvidas, quando sentem que a justiça foi feita.

E vocês, estão preparados para falar sobre isso?

Fonte: Restaurative Works, 2023 year in review. Publicação do Internacional Institute for Restaurative Practices – IIRP.edu